domingo, 31 de julho de 2011

hiatus

Tenho andado mais ocupada com outras coisa do que queria. À falta de melhor decidi parar de escrever até acabar a faculdade, ou pelo menos é isso que penso fazer. Talvez algum dia tenha tempo para escrever um pouco mais. Tenho mais um capítulo escrito há 2 anos. Mas além disso, não tenho mais nada escrito e não tenho andado com cabeça para pensar em escrever mais.

Capítulo X

Jennya apareceu no limiar da clareira que rodeava o salgueiro da reunião. Vendo Gaizer e Diuhsa a serem arrastados por membros do conselho, interveio com uma voz autoritária.
- Façam o favor de largar os dois elfos. Responderei por eles perante vós.
Reconhecendo a forma de falar e a voz de Jennya, o elfo do conselho que aparentava a sua idade emitiu um grito sufocado de surpresa.
- Jennya!!! Princesa Jennya.
- Ah! Pois é. – disse uma elfo que estava ao seu lado.
Jennya, olhou para quem tinha falado. Para o seu espanto encontrou o seu melhor amigo Landor, e uma fada de Aernet.
- O que é que vocês fazem aqui? Supunha que estavam em Aernet.
Landor sorriu, aproximou-se e abraçou Jennya.
- Sou convidado do conselho… É bom, saber que apenas desapareceste e não morreste. Aernet espera por ti. Vamos precisar de dar uma lição aos velhotes lá em cima. Afinal foram eles que primeiro esqueceram as lições que nos ensinaram.
- Certo. Mas primeiro há que libertar aqueles dois ali. – respondeu Jennya apontando para Gaizer e Diuhsa. – São a minha nova família.
A um gesto de Landor, Gaizer e Diuhsa foram libertados.
- Landor, pudeis explicar por favor quem é esta senhora? – o ancião perguntou.
- Ancião, esta é Jennya, conheço-a desde de sempre.
Diuhsa ficou intrigada com a apresentação de Landor. Afinal, a rapariga tinha-lhes dito que se chamava Edmees, e não conseguia encontrar nenhuma razão para ela lhes mentir.
- Ancião, prazer em conhecê-lo. Há muito para lhe contar. – Jennya cumprimentou o ancião.
- Senhora Jennya, faça o favor de se sentar. Sente-se todos.
Obedecendo o ancião todos se sentaram na relva, ao lado do salgueiro, incluindo Gaizer e Diuhsa.
- Ancião, julgo que tem rezado? – Jennya começou.
- Tenho sim, minha senhora, porque pergunta?
- Por curiosidade. Apenas queria saber quanto os elfos ainda acreditam nos deuses lá no céu. – Jennya sorriu com ironia nitidamente expressa.
- Senhora Jennya, penso ser um insulto o comentário que fez. É evidente que tudo aquilo que temos nos foi concedido pelos deuses. Devemos estar todos agradecidos por isso.
- Não é isso que me parece estar a acontecer. – respondeu Jennya com frieza.
Landor, vendo Jennya zangada pela primeira vez, sentiu que algo de sério estava para vir.
- Jennya, onde queres chegar? O conselho não tem muito tempo para se reunir.
- Tudo bem, nesse caso, vou ser directa. Aernet, a cidade sagrada dos deuses foi dividida pela guerra, razão pela qual também esta terra, a dos elfos foi assolada pela miséria, maldade e guerra.
Ouvindo o relato de Jennya, os elfos presentes não puderam evitar abrir a boca de espanto.
- Mas, a guerra em Aernet acabou, pelo menos na aparência. Os deuses compensaram os elfos com abundância. Elfos, a guerra acabou? Não. Pelo que sei, apenas piorou o que começou. Povo Sagrado, vós sois aqueles abençoados pelos deuses, o favorito dos deuses. Como podeis continuar algo que sabeis ser errado? É certo que os deuses desapontaram os elfos… possivelmente, mas é certo também que os elfos não podem desapontar os deuses.
Jennya fez uma pausa. Os presentes reflectiram sobre as palavras proferidas. Apenas o ancião, Landor e uma fada que trouxe consigo não se questionavam sobre a identidade de Jennya.
- Não deviam estar a pensar em parar com este disparate? Sei que uma grande maioria deseja voltar à rotina pacífica, mas quem será o primeiro? Quem será o corajoso, ou talvez a corajosa, que se atreverá a retirar-se primeiro da guerra?
Quando Jennya acabou, fixou o seu olhar no ancião. Entendendo a questão silenciosa que lhe estava a ser colocado, o ancião acenou ligeiramente com a cabeça. Então, Jennya levantou-se e afastou-se com Landor, a fada acompanhante, Gaizer e Diuhsa. Sentaram-se em silêncio. Não esperaram muito tempo. A decisão do conselho foi rápida, muito mais rápida do que Jennya esperava.
- Senhora Jennya… - começou o ancião. – Excelência… Eminência… Majestade…
- Alteza. – esclareceu Jennya perante a indecisão do ancião.
- Alteza, o Povo Sagrado retirar-se-á da guerra imediatamente. Esforçaremos por manter a paz e prosperar no nosso território.
- Agrade-me saber que as nossas perspectivas coincidem. – Jennya sorriu.
- Alteza, se me é permitido, gostaria de saber quem vós sois.
- A nossa apresentação foi feita, ancião. – Jennya brincou. – Sou Jennya, a mais nova dos deuses da família real, agora, possivelmente, a única. Este é Landor, o meu primo. Estes são Gaizer e Diuhsa, os elfos com quem tenho vivido. Também sou conhecida como Edmees, aqui, entre os elfos.
Apesar de suspeitar Jennya ser uma deusa, devido ao seu ar nobre e majestoso, o ancião nunca pensara poder estar perante provavelmente a próxima Senhora do universo.
- Ancião, esperaremos pelas boas notícias do Povo Sagrado. – Jennya despediu-se.

sábado, 8 de maio de 2010

Crónicas da Revelação - Capítulo IX

Edmees sentia uma grande urgência em encontrar os membros do conselho, pois não tinha ideia de como a guerra decorria. Também temia que se a guerra se alastrasse ainda mais, o mundo élfico que os deuses criaram podia correr o risco de desaparecer. Invocou os seus poderes como deusa e chegou à povoação mais próxima num instante.
Quando Gaizer e Diuhsa acordaram e não viram Edmees em lado nenhum, perceberam que Edmees estava mesmo determinada a encontrar os membros do conselho. Gaizer ficou um pouco amuado, já que tinha aprendido a gostar da companhia de Edmees. Apesar de se sentir frustrado, sentia que tinha de fazer alguma coisa para ajudá-la. Como não podia fazer nada por ela enquanto estavam separados, decidiu voltar às suas rezas. Muitos eram os que rezavam, como Gaizer, mas poucos ou nenhum rezava como ele. A convicção com que rezava e a frequência das suas rezas afectava até o mais insensível dos deuses. Nos dias que se seguiram, por vezes, Gaizer acordava de manhã, tomando consciência de que estivera a noite toda a rezar inconscientemente.

Em Aernet, felizmente, as preces de Gaizer chegaram aos ouvidos da Deusa da Água. Desapontada como estava, reencontrou esperança ao ouvir as rezas de Gaizer.
- Liurath!!
- Minha estimada Deusa da Água, que quer desta vez? – Liurath respondeu com clara impaciência.
- Liurath, ouve, ter-te como Regente não faz diferença nenhuma. Precisamos de alguém que consiga impor alguma ordem naquele mundo caótico ali em baixo. – respondeu a Deusa apontando para o mundo dos elfos.
- Então que sugeres?
Ouvindo a conversa, a Deusa da Terra aproximou-se.
- É certo que agora os descendentes do Rei estão mortos, e isso é certamente uma grande tragédia para nós, bem como para os elfos, mas isso não quer dizer que podemos continuar sem um rei.
- Estou a entender, tu queres é que Liurath ocupe o lugar de rei para as coisas continuarem como antes. – interveio uma fada que entretanto se aproximara.
- Neste caso, temos de considerar a guerra ganha pelo lado de Liurath, visto que o lado de Johrry perdeu todos os candidatos. Talvez isto seja uma evidência de fraqueza. – disse o Deus da Guerra.
Cada vez juntava mais gente à volta de Liurath e da Deusa da Água para ouvir a conversa. Os defensores de Liurath mostraram-se contentes com a conclusão do Deus da Guerra, mas não demasiado pois a situação era séria demais para pulos de alegria. Os defensores da família real também não puderam dizer nada pois a verdade estava dita, não podiam sequer negá-la. Assim, ficou decidido que em breve Liurath seria coroado.
As tarefas para a coroação eram muitas, no entanto, em nenhuma delas parecia Landor participar. Na verdade, Landor não era visto em lado nenhum há algum tempo. Mais um deus desaparecido em acção.

No limiar do território do povo sagrado, de um lado estava uma densa vegetação rasteira, do outro lado nada havia senão fumo e ruínas. Tal era o estado do solo que era pouco provável voltar a ser habitado por vivos. Contudo, para os deuses, o pouco provável pode tornar-se provável e até certo. Observando a cena estava Jennya, conhecida como Edmees entre os elfos. A pequena deusa inocente sentiu um pouco desapontada com a criação dos seus antepassados. A semelhança entre os elfos e os deuses tanto física como psicológica espelhava escuridão no coração dos deuses. Essa realidade começava a nausear Jennya que conseguiu ver a imperfeição dos seres perfeitos.
A noite estava a chegar rapidamente. Levantou-se uma brisa.
- Vento de mudança. – constatou Jennya.
- São 10 os membros do conselho e 2 convidados recentemente, fazem deles 12. Hei-de os encontrar a todos. – reflectiu Jennya.
De repente, levantou a cabeça para escutar.
- Que me dizes, que histórias contas vento?
... inquietos….
Jennya franziu as sobrancelhas.
…as árvores sabem… com certeza…
- Obrigada, vento. Muito me ajudas.
Regressando rapidamente à floresta do onde tinha vindo, pousou a mão na árvore mais perto de si e perguntou:
- Árvores, sopram ventos de mudança. O que sabeis vós?
…o conselho reúne-se. Grandes…e tempestade avizinham-se. Deusa… o mundo…
- O conselho… O conselho do Povo Sagrado, ó tu que me dás sombra?
Uma brisa ligeira abanou as folhas da árvore. Jennya obteve uma resposta afirmativa. Invocou os seus poderes e apressou-se a voltar para junto da que deixara no centro da floresta.

Gaizer e Diuhsa encontravam-se empoleirados nos ramos do salgueiro à volta do qual se reunia o conselho do Povo Sagrado. Vários elfos aproximavam-se com calma. Entre eles havia um que aparentava a mesma idade que Edmees.
- E agora? Como vamos avisar Edmees? – sussurrou Gaizer.
- Não sei bem, mas se ela não vier até aqui, vamos fazê-los fica até ela vir.
- Boa ideia.
O elfo que aparentava a mesma idade que Edmees, olhou para cima, para os ramos do salgueiro, directamente para o local onde Gaizer e Diuhsa estavam.
- Estranhos, intrusos. – murmurou.
Os que estavam perto dele olharam também. Sabendo que os elementos constituintes do conselho eram todos senhores nobres, importantes e poderosos, Gaizer e Diuhsa não puderam fazer outra coisa senão descer da árvore.
Encarando os intrusos com sobrancelhas franzidas, o ancião pediu a outros dois membros que os levasse para fora do território do Povo Sagrado. Gaizer e Diuhsa protestaram, mas de nada serviu pois espiar o conselho era o crime mais grave entre o Povo Sagrado.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Crónicas da revelação - Capítulo VIII

Acordaram com os primeiros raios solares. As árvores à sua volta pareciam formar um longo corredor. Diuhsa sugeriu que seguissem pelo corredor das árvores para tentar encontrar um abrigo onde pudessem passar algum tempo até a guerra acabar…se, alguma vez acabar.
O caminho sinuoso por entre as árvores levou-os a uma cabana, com um aspecto recentemente habitado. Diuhsa bateu à porta, como ninguém respondeu, empurrou a porta com cautela.
-Está aí alguém? – perguntou Edmees imitando a voz de uma criança pequena.
Mais uma vez, ninguém respondeu. Diuhsa entrou primeiro, a seguir Gaizer, e por último, Edmees.
O interior da casa estava bem equipado. Visto de fora, parecia apenas uma cabana, no entanto, por dentro, quase parecia um palácio para os tempos difíceis em que se encontravam.
- Uau! Acho que encontrámos um tesouro escondido perdido no meio desta guerra. – contentou-se Gaizer.
- Mas o tesouro se calhar já tem dono…- comentou Edmees. – É melhor esperarmos para ver se vem alguém ou se já foi abandonada.
- Pelo aspecto, há poucas hipóteses de a terem abandonado, ou não deixariam tantas coisas atrás. – disse Diuhsa.
- Se calhar tiveram de fugir à pressa…- Gaizer sugeriu.
- Nesse caso, é melhor nós também não ficarmos. Há a possibilidade de acontecer algo perigoso, e não é de riscos que estamos à procura. – assegurou Diuhsa.
Esperaram pelo dono da casa à sombra das árvores. Era um lugar agradável, calmo e fresco. Não foi preciso muito tempo para Gaizer adormecer. Também Edmees encostou a uma árvore para descansar. Perderam a noção do tempo. Quando Diuhsa os acordou, viram que falava com um elfo de porte imponente. Edmees levantou-se e inclinou a cabeça em sinal de cumprimento. Demorou apenas uma fracção de segundo até perceber quem estava à sua frente: o exilado Rei dos Deuses.
- Pai? – interrogou-se Edmees.
- Jennya? – exclamou Lordgok reparando na sua filha. – Porque estás aqui?
- Fugi.
- E a cidade de Aernet? – inquiriu Lordgok.
- Acho que a cidade está mais calma. Mas como os elfos pareciam não querer acalmar, resolvi entrar neste mundo para ver se os compreendo. Talvez assim os possa ajudar.
Lordgok sorriu. Jennya poderia ser uma boa futura rainha.
- Sempre foste muito madura. – Lordgok afagou a cabeça de Jennya.
Jennya virou-se para os seus companheiros e apresentou o seu pai. Gaizer sentiu-se contente por Edmees ter encontrado o seu pai, mas ao mesmo tempo estava ligeiramente ressentido pois certamente ela os iria abandonar.
- Então deixo-vos a conversar. - disse Diuhsa, puxando Gaizer para um lado.
Enquanto Diuhsa e Gaizer se afastavam, Lordgok puxou Jennya para o meio das árvores escondendo-se de olhares curiosos.
- Jennya, tenho algo muito importante à minha guarda e só a vou confiar a ti, porque és minha filha.
- Pai, pode confiar em mim. Guardarei com zelo.
- Então vem. Vou-te mostrar. - disse Lordgok guiando Jennya pelo meio das árvores.
As árvores pelas quais iam passando pareciam sussurrar e indicar-lhes o camnhio por onde deviam seguir. Não andaram muito tempo até chegarem a uma pequena clareira onde encontraram uma anta.
- Jennya, debaixo desta anta está o ceptro de Aernet que as Fadas atiraram para a terra do Povo Sagrado. Leva-o de volta para Aernet. Ele será muito preciso nos tempos vindouros.
- Sim, pai. Farei o que dizes, mas primeiro tenho de ajudar os elfos naquilo que mais precisam. Aqui. - esclareceu Jennya apontando para a cabeça.
Jennya retirou o ceptro da anta e examinou-o com cuidado.
- Não foi tocado. – constatou Jennya.
- Pois não. – concordou Lordgok. – Encontrei-o assim que cheguei. Decidi deixá-lo num lugar seguro. Ainda bem que te encontro. Assim, terei a certeza de que estará em boas mãos.
- Obrigada pela confiança, pai.
- Muito bem. Então, volta para o lado daqueles que queres ajudar. Aproximarmo-nos dos outros é o primeiro passo para conseguir entende-los e ajudá-los. Aprendeste bem a lição.
- É pena todos terem aprendido bem a lição, apesar de a terem esquecido tão depressa como a aprenderam.
Lordgok sorriu e afagou os cabelos de Jennya, mostrando-se impotente quanto à realidade. Jennya apressou-se a voltar para junto da sua nova família. Ao ver Jennya regressar, Gaizer mostrou-se claramente surpreendido.
- O teu pai, onde está?
- Vai ficar por aqui, acho eu.
Foi a vez de Diuhsa ficar surpreendida.
- Achas? Quer dizer que tu não sabes?
- Agora vocês são a minha família, não vos vou abandonar! - assegurou Jennya.
- Mas ele é teu pai. - disse Gaizer tentando ser razoável, mas a pular de alegria por dentro.
- Pois é. Mas isso pouco ou nada me diz. Tenho obrigações e deveres a cumprir. Não é todos os dias que se recebe um ceptro…
Mal acabou de falar, apercebeu-se do seu grande erro. Nunca deveria ter referido o ceptro de Aernet, ou todos iriam querer que se utilizasse o poder do ceptro para resolver até o mais pequeno dos problemas.
- Que ceptro? É isso que tens aí na mão? - Diuhsa mostrou-se curiosa.
- É. Mas, eu não vos quero mentir, por isso, é melhor nem perguntarem. Eu direi quando achar que é conveniente. Pode ser?
- Claro. Respeitamos a tua privacidade - disse Diuhsa num tom solene, com um ligeiro toque de ironia.
No dia seguinte, Edmees explicou que queria encontrar o salgueiro à volta do qual se reunia o conselho do Povo Sagrado. Gaizer e Diuhsa mostraram-se curiosos em saber a razão, mas Edmees nada revelou. Não demoraram muitos dias a encontrá-lo. No entanto, souberam pelos elfos locais que o conselho já aí não se reunia desde que a guerra começou.
- E agora? Como é que os vou encontrar? – suspirou Edmees.
- É assim tão urgente? – perguntou Diuhsa.
- Não muito, vendo bem, a guerra já dura há bastante tempo, mais dia menos dias talvez não faça assim tanta diferença.
Fizeram um pequeno acampamento perto do salgueiro. De dia, colhiam bagas e frutas para as refeições, ao anoitecer, inventavam histórias para se divertirem. A calma e a paz eram uma constante, uma constante estranha nos tempos em que viviam. Assim, completamente isolados do mundo exterior, no coração do território do Povo Sagrado, muitos dias passaram sem que vislumbrassem um único membro do conselho do Povo.
- Talvez não seja boa ideia simplesmente esperar que o conselho. – questionou-se Edmees.
- Não sabemos onde procurar, por isso, talvez seja preferível não procurar, podemos desencontramo-nos. Isso não seria pior?
- É verdade – reflectiu Edmees. – Mas esperar não é solução, até pode ser que tenham mudado de lugar para as reuniões do conselho. Apesar de não parecer aqui no interior da floresta, mas tenho quase a certeza de que a guerra ainda continua lá fora.
- Tens alguma proposta? – perguntou Gaizer.
Edmees pensou por instantes.
- Eu vou passear pelo território do Povo Sagrado e tentar procurá-los. Possivelmente vou mandar uma ave de vez em quando para me certificar que eles não estão em conselho e eu à sua procura.
- Não te lembras a razão inicial pela qual nós os três nos afastámos da confusão juntos? – Gaizer mostrou-se um pouco emocional.
- Claro que me lembro. Mas, como já disse, hei-de dizer aquilo que entender quando achar oportuno. Para já, posso apenas dizer que quero cumprir aquilo que me parece ser o meu dever.
O seu olhar transparecia firmeza e determinação. Vendo que nada a faria mudar de ideias, Diuhsa acabou por ceder. Quando Diuhsa e Gaizer dormiam, Edmees partiu esgueirando-se por entre as árvores.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

problems

Somehow, Blogger went stupid and I can't paste things from Word. So, another several weeks before I found a way to post things........Bla...bad blogger.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Crónicas da Revelação - Capítulo VII

Gaizer continuava a orar todos os dias, pouco comendo ou descansando. Até que, um dia, ao anoitecer, estava ele a rezar com todas as forças que lhe restava, os galhos secos que ainda o protegiam de olhares hostis foram suavemente afastados por uma mão frágil e delicada. Gaizer abriu a boca para gritar, mas a única coisa que se ouviu foi um grito fraco e agudo.
- Não te assustes. – disse a mulher. – Não te vou fazer mal. Anda, vem comigo.
Já demasiado fraco para resistir, pegou na mão estendida e saiu dos arbustos.
Esperava ver um longo deserto estendendo-se para o infinito, mas, embora o solo fosse árido, pequenas plantas e arbustos verdes surgiam aqui e ali, e algumas árvores subiam em direcção ao céu azul. Mesmo assim, era ainda visível o fumo de tantas guerras que por ali passaram saíndo de destroços abandonados.
Um ou outro elfo, a maioria mulheres, caminhava por ali com um ar perdido ou procurando crianças deixadas para trás. A elfo que o encontrara caminhava agora para uma jovem e bela elfo, com aparência de 14 anos, de longos cabelos negros e uns olhos estranhos e penetrantes entre um verde-esmeralda e um azul-safira, e uma expressão simultaneamente nobre e preocupada.
- Pronto, agora está tudo bem. – disse a elfo que o fora buscar. – O meu nome é Diuhsa, e vou cuidar de vocês.
A outra elfo deu um passo em frente:
- Eu chamo-me Edmees. Prazer em conhecer-te, … como te chamas?
- E-eu sou G-Gaizer…- gaguejou o rapaz.
- Muito bem, agora já nos conhecemos melhor.
Os três caminharam até uma cabana com um tecto de palha. A casa não tinha mobília alguma. No chão havia apenas escassa mantas nas quais podiam enrolar-se para dormir. Comeram tumas taças de feijão em tigelas rachadas.
- A situação não é para brincadeiras. A vida está difícil. – Diuhsa desculpou-se pela pobreza da refeição.
- É muito melhor do que tenho passado nos últimos dias. - respondeu Gaizer com amabilidade.
Como estavam todos cansados deitaram-se no chão para descansar.
Horas mais tarde, Gaizer acordou, vendo que Edmees não estava, saiu para a procurar.
Edmees estava sentada, encostada à parede da frente da casa, de olhos fechados, como se estivesse a olhar para o céu, e a mexer a boca ligeiramente, parecendo que estava a dizer alguma coisa.
Gaizer aproximou-se dela e perguntou:
- Também não consegues dormir?
- Sim. – respondeu ela, simplesmente.
Ficaram os dois parados por um momento. Gaizer sentou-se ao pé dela devagarinho. Edmees abriu os olhos, fixando o céu estrelado, e começou a cantar alto, numa língua desconhecida. Ele olhou para os olhos dela: pareciam duas estrelas a brilhar intensamente no céu azul-escuro. A música começou a envolvê-lo, e as estrelas pareciam cada vez mais brilhantes, até que todo o céu era uma explosão de luz. Sem dar conta disso, Gaizer adormeceu.
Gaizer abriu os olhos, com uma sensação muito estranha. Levantou-se e reparou que estava todo ensopado. Olhou em volta: as paredes e o chão estavam todos molhados, e Diuhsa, juntamente com Edmees, tentava secar o que podia. Foi ter com elas.
- O que se passou?
- Houve uma tempestade durante a noite. – respondeu Diuhsa.
- Posso ajudar?
- Quanto mais, melhor.
Quando estava já tudo mais ou menos seco, saíram de casa. Como tinha parado de chover, fizeram uma fogueira para se secarem.
- Então, e o que querem comer? – perguntou Diuhsa, pouco tempo depois.
- Porque não vamos pescar no rio? – disse Edmees, sempre a sorrir.
- Óptima ideia!
Levantaram-se e foram para perto do rio. Gaizer olhou para a água e ficou surpreendido ao ver um enorme cardume de auna a passar muito rapidamente.
- Isto vai ser divertido… - murmurou.
De repente, ouviu um grande “splash” da direita, e ao virar-se viu Edmees muito divertida a segurar com as mãos um auna , que se debatia para se tentar libertar.
De seguida, ouviu-se outro “splash”: Diuhsa tinha ido buscar um balde e já apanhara mais um.
Gaizer suspirou e pensou: “Mas porque é que eu me estive a secar?” Debruçou-se no rio e imitou-as.
Apanhou um auna enorme, mas este logo lhe escorregou das mãos e caiu de chapa dentro de água, molhando completamente Gaizer. Edmees dava enormes gargalhadas por causa do sucedido. O elfo olhava estupefacto para a água, e de repente, ria-se juntamente com a amiga. Continuaram a pesca, entre sucessos e fracassos, e com um “mergulho” por parte de Edmees, que se debruçara demais sobre a margem e desequilibrou-se, caindo dentro do Zillian, ao voltar para terra, começou a rir tanto que ela e Gaizer deitaram-se na relva, sem conseguirem parar. Apenas Diuhsa se mantinha séria, embora por uma ou duas vezes um lampejo de sorriso passasse pelos lábios dela.
Em pouco tempo, já tinham o balde completamente cheio e alguns auna ainda se mexiam à volta. Gaizer, Diuhsa e Edmees atiraram-se para trás e suspiraram de alívio.
Depois, Edmees sentouse e disse:
- Tenho de começar a fazer isto mais vezes.
Os outros dois sentaram-se e olharam para ela.
- Fazer o quê? – perguntou Diuhsa.
Edmees apenas sorriu enigmaticamente.
Gaizer olhou para a amiga surpreendido, enquanto a sua nova mãe exclamou:
- Lá está ela novamente com os seus mistérios.
Edmees começou a cantar novamente uma música numa língua desconhecida. A sua voz era clara e cristalina, e, enquanto cantava, as águas do rio tornavam-se ainda mais límpidas e transparentes, e a corrente era cada vez mais rápida, como se quisesse também cantar com Edmees.

Passaram vários dias numa estranha calma, mas num mundo em guerra, mesmo a mais pequena felicidade durava pouco.
- O pôr do Sol está com uma cor estranha. – disse Gaizer.
Edmees e Diuhsa saíram da casa e olharam. O pôr do Sol era de um vermelho alaranjado, incrivelmente ofuscante que até parecia ferir os olhos.
- Amanhã irá chover. - disse Edmees calmamente.
Enquanto contemplavam o pôr do Sol, gritos chegaram aos ouvidos dos três. Apenas Edmees não virou a cabeça para ver o que se passava.
- Seria melhor se mudássemos de casa. – recomendou Diuhsa. – Não seria bom sermos envolvidos nas lutas, agora que conseguimos escapar.
- É verdade. – concordou Edmees.
Pegaram nas poucas coisas a que poderiam dar uso, seguiram à margem do rio até a luz do Sol desaparecer por completo. A noite estava fresca. Mesmo dormindo juntos, Gaizer acordou a tremer de frio. Levantou-se e tentou desesperadamente fazer uma fogueira raspando com os ramos um no outro. Os movimentos acordaram Edmees, que se apressou a impedi-lo de acender uma fogueira.
- Eles ainda devem estar perto. - sussurrou Edmees. – Não devíamos fazer nada que possa ser visto por eles, podemos envolvermo-nos nas lutas.
Entretanto, Diuhsa acordou também.
- Talvez seja melhor irmos para um lugar mais abrigado.
- Mas não se vê nada, nem estrelas há no céu. – suspirou Gaizer desalentado.
- Então vamos andando devagar, tacteando de vez em quando. – sugeriu Edmees. – Ao menos ficamos mais quentes do que se ficarmos parados.
Dito isto, levantou-se e liderou o grupo. Enquanto andava, ia murmurando coisas imperceptíveis. Parecia a Gaizer que Edmees dizia uma prece. Avançavam lentamente, mas o caminho por onde Edmees os conduzia pelas mãos, não tinha muitos sobressaltos. O caminho que percorreram ainda não era muito longo, quando as nuvens começaram a afastar-se deixando que a luz das estrelas chegassem até ele. Só então, Gaizer reparou que Edmees ainda não tinha parado de dizer a prece que acabou por descobrir não ser uma prece, pois Edmees cantava, como na noite anterior. Edmees pareceu reparar que Gaizer se tinha apercebido de que estava a cantar pois começara a cantar mais alto. Tal como na noite anterior, quanto mais alto Edmees cantava mais as estrelas brilhavam. Quando pararam, já conseguiam ver perfeitamente com a luz da lua e das estrelas.

sábado, 3 de outubro de 2009

Crónicas da Revelação - Capítulo VI

Passaram anos sem se avistar a paz. Em Aernet, a guerra continuava, e muitas, demasiadas almas tinham já voado para longe, deixando os corpos de deuses outrora pacíficos e gloriosos: a Deusa da Paz, o Deus do Fogo e a Deusa da Luz, bem como os descendentes do Rei, já tinham caído por terra, os corpos sem vida antes de sequer tocarem no chão.
Jennya tinha desaparecido sem deixar rasto, e muitos, incluindo a Deusa da Água, pensavam que ela tinha também perecido no campo de batalha.
Esta encontrava-se a falar com Liurath e a Deusa da Terra sobre as suas suspeitas.
- Se Jennya também morreu, então não há agora descendente algum para herdar o trono. – suspirou a Deusa da Terra.
- Esta guerra deixou de ter qualquer sentido. Apenas trouxe desgraça, não só a nós como aos elfos. Em vez de preocuparmo-nos com ninharias, devíamos era procurar uma solução para acabarmos com ambas as guerras! – revoltava-se a Deusa da Água.
- Tão nova, não merecia um destino tão cruel... – continuava a amiga. – E agora, quem sucederá a Lordgok? Quem governará Aernet?
Finalmente, Liurath falou:
- Acalma-te, Linen, sorri, Ehlea, e ouçam-me. Penso ter uma solução para ambos os problemas: eu tornar-me-ei o novo regente desta cidade, e assim a guerra acabará, pois não haverá qualquer razão para esta continuar...
- Então e os Elfos? Eles precisam da nossa ajuda agora, e depressa! – interrompeu a Deusa da Água.
- Como eu estava a dizer... – continua Liurath, lançando um olhar irritado a Linen. – A primeira medida que tomarei mal seja Rei será acabar com a maldade que assolou as terras élficas.
Desta vez, foi a Deusa da Terra que falou:
- Desde que tudo acabe em bem... Afinal de contas, a culpa de tudo isto é nossa e apenas nossa... se tivéssemos pensado antes de agir, nada disto teria acontecido.
- Apoiado! – exclamou a outra Deusa. – Atrevo-me a dizer que fomos egoístas, senão pior. Já que não nos esforçámos para resolver os nossos problemas, devemos compensar dando aos elfos a possibilidade de paz.
- E se acabássemos com isto? Há trabalho à espera! – disse Liurath, num tom de voz que mostrava a sua impaciência.
Sem mais delongas, saíram da Sala de Reuniões e foram avisar os outros.
Empenharam-se a sério nas suas obrigações, fazendo renascer a terra, acabando com a seca, dando uma nova esperança ao mundo fazendo-o viver novamente.
Em nada resultou. Os elfos continuaram a guerra, pouco ligando ao que acontecia à sua volta, excepto se vissem algo que lhes pudesse dar mais uma vantagem sobre o adversário.
Por esta altura, as técnicas utilizadas pelos elfos tinham já evoluído muito: construíram fortalezas e muralhas, e começaram a usar tácticas inovadoras, atraindo o inimigo para complexas armadilhas e matando sem mostrar compaixão. Cada vez que os elfos recebiam uma dádiva, a guerra entre eles aumentava. Milhões de cavalos e elfos caíam a cada instante, sem ninguém conseguir atingir os domínios adversários. Não havia confronto directo, mas mesmo assim a Morte alastrava-se pelos numerosos campos de batalha. Os soldados não conseguiam dormir, não havia comida nem água, e, quando não lutavam, era o silêncio que reinava.
Parecia que já não tinham sentimentos, já não tinham um destino. No lugar do coração, havia um buraco negro que sugava qualquer vestígio de felicidade ou amor. Eram instrumentos do Mal que faziam nada mais do que lutar. Já não conheciam compaixão ou mesmo dor, tinham esquecido a própria vida. As suas memórias estavam cobertos pelo véu do esquecimento, e já nada parecia ter um objectivo. Só sabiam lutar.
Ninguém escapava às garras do ódio: homens, mulheres e crianças eram contaminados pela raiva cega e pelo puro Mal. Já não sorriam, já não cantavam alegremente, mas também não choravam nem sofriam pela morte de todo o mundo élfico, outrora tão tranquilo e belo.
Todas as tentativas de paz pela parte dos Deuses falharam, e já não sabiam o que fazer mais para acabar com a sombra negra que se alastrava por todas as terras. Esperavam conseguir um milagre, mas começavam a acreditar que todos os seus esforços eram em vão. Davam-lhes tudo, mas tudo não era suficiente. As suspeitas transformavam-se em certezas, e contra a sua própria vontade, cada um começou a crer numa coisa apenas: era tarde demais, pois as trevas já tinham coberto todas as almas.
Pouco depois, tal pensamento já parecia uma realidade, e os Deuses, convictos dessa falsa verdade, simplesmente deixaram de se preocupar. Sentiam ainda a culpa e os remorsos, e continuavam a realizar as suas tarefas, mas já pouca esperança restava, as ideias e os planos começavam também a escassear, e o desinteresse por aquelas tentativas infrutíferas era notório.