sábado, 29 de agosto de 2009

Crónicas da Revelação- Capítulo V

Os Elfos sempre viveram uma vida pacata, feliz e serena. Pelo menos, até ao momento que encontraram a Fenda, pois, a partir desse momento, todos os que aventuravam a explorar esses territórios negros voltavam completamente alterados, ou não voltavam. O medo e a dor contaminavam todos os seres de Eldhruil, rivalidades apareciam entre povos outrora amigos, e os Elfos tentavam defender-se como podiam do Mal que assombrava as suas vidas: construíam fortificações à volta das aldeias, guerreavam com os outros povo em busca de melhores condições, …
Apenas o Povo Sagrado se mantinha em paz, pois não era afectado pelo Mal.
A pouco e pouco, o mundo élfico modificava-se, tornando-se cada vez mais hostil e inóspito. Mas esta situação apenas se tornou verdadeiramente grave quando a guerra dos Deuses começou.
A noite desapareceu, dando lugar a um Sol eterno. No céu, nem uma única nuvem se avistava, embora relâmpagos o rasgassem regularmente. Não havia chuva, mas um grande arco-íris fazia um arco que parecia abranger todo o mundo, céu, terra e mar.
A terra era árida, sem uma árvore, sem uma flor, sem um vislumbre de vida. Cadáveres espalhavam-se na terra arenosa, e abutres bicavam-nos ou sobrevoavam a área, procurando por carne fresca.
No entanto, o Povo Sagrado tinha descoberto um curso de água quase seco. Construiu uma barreira para conseguir água suficiente para a sua sobrevivência, armazenando-a num local onde esta não pudesse ser absorvida pela terra. Assim, embora vivessem pobremente, conseguiam ultrapassar a desolação e a miséria dos outros povos. Estes, ao reparar na vida que o Povo Sagrado tinha, começaram a conspirar contra eles e a reparar uma invasão ao seu território.
De dia, antigos mercadores entravam na cidade. Traziam mercadoria escassa, mas o Povo Sagrado, bondoso como sempre, aceitou negociar com os comerciantes. À noite, quando já todos dormiam sem ninguém saber, a porta da cidade foi aberta e muitos elfos entraram em silêncio. Dia após dia, elfos foram entrando sem o Povo Sagrado notar. Uma noite, estes já eram tantos que os mercadores que entravam já não conseguiam arranjar alimento. Alguns elfos organizaram-se e, em grupos, assaltaram casas do Povo Sagrado à procura de comida e de objectos úteis à sua sobrevivência. A cada noite que passava, mais eles roubavam. A certa altura, começaram a roubar de dia e até tiravam as coisas das mãos das pessoas.
Naturalmente, o Povo Sagrado começou a ficar irritado com tamanho descaramento da parte dos forasteiros, até que chegou uma altura em que os outros passaram dos limites.
O governante do Povo Sagrado reuniu o conselho para tomarem medidas quanto àquela situação. Finalmente, decidiram que, ao primeiro roubo que houvesse, eles atacariam os forasteiros com pedras, areia, e até com a mercadoria deles.
Ia uma criança a caminhar pelas ruas com um pote de água nas pequenas mãos, quando um elfo forasteiro repara nela. Sussurrando para si próprio “Água vai!”, aproximou-se rapidamente do rapazinho e tirou-lhe o pote bruscamente das mãos, sem sequer se preocupar em não entornar água, virou-lhe as costas e foi-se embora. O pequeno elfo gritou:
- O forasteiro!!!
Prontamente, vários elfos pegaram naquilo que tinham à mão e “bombardearam” os outros elfos. Estes, pegaram naquilo que tinham do Povo Sagrado e contra atacaram.
Os elfos começaram a destruir tudo o que viam, procurando algo que pudessem usar.
A areia cegava-os, os vidros enterravam-se na pele, as pedras causavam-lhes dores inimagináveis, elfos caíam mortos no chão a cada instante, crianças choravam, a cara reflectindo o choque que sentiam…
A cada dia que passava, a luta tornava-se maior e mais forte. Era urgente acabar com a guerra, pois esta ameaçava cada vez mais o futuro da raça élfica: era isto que Gaizer pedia aos deuses nas suas preces.
Gaizer, um pequeno rapaz do Povo Sagrado, estava escondido por pequenos ramos da vista de todos desde que a guerra começara. Sempre que alguém passava mais perto, rezava para que não o encontrassem. Sempre que estava sozinho, pedia aos deuses paz e a sua antiga vida, quando os solos eram férteis, a cidade era próspera e todos vivam felizes e em comunhão.
A guerra prolongava-se, e, dia após dia, Gaizer repetia as suas orações, pedindo desculpas por não ter nada para oferecer além das suas palavras, tornando-se um hábito, uma rotina. Já não tinha esperança de que pudesse voltar à antiga vida.

Crónicas da Revelação- Capítulo IV

Na sala de reuniões, os deuses discutiam o súbito exílio do Rei e as consequências da acção das fadas.
- Penso que… – começou Liurath. – Johrry não tenha poder, experiência, conhecimentos ou idade para governar. Talvez alguém mais, bem, mais culto seja melhor Rei, isto é acho melhor ser eu a governar Aernet.
De imediato, uma chuva de opiniões irrompeu a sala.
Muitas deusas defendiam que se devia seguir a tradição, mas outros discordavam completamente, apoiando Liurath.
- Liurath é muito mais experiente e sábio que…
- Ele não tem o direito de ser Rei, é contra a trad…
- Cala-te mas é! Não vês que…
- Eu vejo muito bem, obrigada, tu é que não percebes!
- Parem com isso! Concordo com a Deusa da Luz, o melhor é seguir a …
- Não, isso outra vez da tradição é que não! Vocês não sabem nada! A tradição não pode ser tudo!
Nisto, a Deusa da Guerra levantou-se num rompante:
- Já chega, estou farta! Isto não vai a lado nenhum! Se é guerra que querem, é guerra que terão.
- Acalma-te, pois a guerra seria desnecessária. – disse a Deusa da Paz. – Deve haver uma forma de resolver este dilema sem se ter de recorrer a um conflito armado.
- Humpf! Se for necessário, até Jennya pode governar. É a tradição que faz de um povo aquilo que ele é.
Bastaram estas palavras da Deusa da Luz para tornar os esforços da Deusa da Paz inúteis: ao ouvirem isto, todos recomeçaram a discussão.
- Basta! Isto já é demais! – exclamou, de repente, a Deusa da Paz. – Bem, já vi que vai ser impossível chegarmos a um acordo, portanto eis a minha proposta: reunir-nos-emos daqui a 2 dias para ver se chegamos, então, a um consenso. Entretanto, daremos a conhecer às fadas os nossos, bem, os nossos desacordos, pois a opinião delas também conta.
Sem outra opção senão continuarem a discutir, os deuses viram-se obrigados a aceitar a ideia da Deusa da Paz.

Dois dias depois, realizou-se então a nova reunião. Mas esta mostrou-se tão infrutífera como a anterior, e agora parecia impossível calar a raiva que parecia dominar os apoiantes de Liurath e que começava a contagiar todos os outros:
- Boa sugestão, sim senhora! É claro que as fadas iam estar do vosso lado, sempre a apoiar a Jennya e o resto da família real…isso foi desonesto, para não dizer pior! Elas apoiam os primeiro que lhes aparecer à frente, sem pensarem!
- Tu estás é contra tudo e todos! Mais valia pedir-lhes a opinião do que outra revolta…
- Revoltado estou eu contra todas essas tentativas de não ligar à razão!...
- Nós? Tu é que não queres abrir os olhos para a realidade…
- Vê lá o que é que dizes, sua…
- Já me estás a irritar! – explodiu a Deusa da Paz. – Se tens tanta razão porque gritas? Havemos de chegar lá, não achas? Ou talvez não tenhas assim tanta razão. Se não chegamos imediatamente a um acordo, então a nossa única solução é a guerra!
- Pois então… - desafiou o Deus do Fogo. - …que vença o melhor.
A estátua do cavaleiro negro armado ficou em cima da mesa como uma declaração de guerra e todos se afastaram para a preparar.
Durante as duas semanas seguintes, houve um período de paz, quase forçada. Aernet, sempre luminosa e brilhante, mostrava-se agora escura e sombria. A atmosfera que se vivia era pesada e silenciosa, pois nenhum dos deuses se dignava a falar com outro, tentando mostrar-se demasiado ocupado com os preparativos para a guerra.
Jennya, por seu lado, mostrava-se preocupada e apreensiva quanto ao ambiente que a rodeava: sabia que não havia uma guerra tão grande entre os deuses desde que existiam, o que a assustava muito, pois não sabia o que poderia acontecer.
Foi então que, na noite logo após as duas as semanas de paz, o Deus do Fogo decidiu que tinha chegado a altura de começar. Com o seu exército, varreram o terreno até chegarem às portas da Pousada da Deusa da Luz. Aí, esperaram.
Minutos depois, uma bola de fogo rompeu o céu negro e explodiu em milhares de chamas. Como resposta, viu-se logo de seguida uma jacto de luz a atravessar o ar e a subir como uma flecha em direcção ao nada, irrompendo em várias faíscas. A Deusa da Luz preparava-se para o ataque iminente. Conduzido o seu exército, posicionou-se para o campo de batalha onde as tropas do seu primeiro adversário aguardavam impacientemente.
O jacto de luz que atravessara a escuridão em resposta à bola de fogo significou a aceitação do desafio. Tinha começado a guerra.
Quando se encontravam a apenas 10 metros, o Deus do Fogo levantou o símbolo do seu poder (um cabo de cerca de 20 centímetros com uma estrela do tamanho da palma da sua mão, completamente vermelho) e gritou:
- À guerra!!
As fadas do fogo começaram logo a atacar, atirando pequenas bolas de fogo contra o exército inimigo. Este, por seu lado, contra-atacou vários jactos de luz.
Não tardou muito até todos os outros deuses se aperceberem do que se passava e acorrerem aos seus aliados. Com tudo isto, pouco tempo depois já havia uma confusão tão grande de poderes que era difícil de distinguir quem atacava e quem se defendia. Tufões, trombas de água, jactos de luz e bolas de fogo, tudo misturado numa grande nuvem de fumo em que nada se via.
Entretanto, o povo de Eldhruil começava a notar que algo de estranho se passava.