sábado, 8 de maio de 2010

Crónicas da Revelação - Capítulo IX

Edmees sentia uma grande urgência em encontrar os membros do conselho, pois não tinha ideia de como a guerra decorria. Também temia que se a guerra se alastrasse ainda mais, o mundo élfico que os deuses criaram podia correr o risco de desaparecer. Invocou os seus poderes como deusa e chegou à povoação mais próxima num instante.
Quando Gaizer e Diuhsa acordaram e não viram Edmees em lado nenhum, perceberam que Edmees estava mesmo determinada a encontrar os membros do conselho. Gaizer ficou um pouco amuado, já que tinha aprendido a gostar da companhia de Edmees. Apesar de se sentir frustrado, sentia que tinha de fazer alguma coisa para ajudá-la. Como não podia fazer nada por ela enquanto estavam separados, decidiu voltar às suas rezas. Muitos eram os que rezavam, como Gaizer, mas poucos ou nenhum rezava como ele. A convicção com que rezava e a frequência das suas rezas afectava até o mais insensível dos deuses. Nos dias que se seguiram, por vezes, Gaizer acordava de manhã, tomando consciência de que estivera a noite toda a rezar inconscientemente.

Em Aernet, felizmente, as preces de Gaizer chegaram aos ouvidos da Deusa da Água. Desapontada como estava, reencontrou esperança ao ouvir as rezas de Gaizer.
- Liurath!!
- Minha estimada Deusa da Água, que quer desta vez? – Liurath respondeu com clara impaciência.
- Liurath, ouve, ter-te como Regente não faz diferença nenhuma. Precisamos de alguém que consiga impor alguma ordem naquele mundo caótico ali em baixo. – respondeu a Deusa apontando para o mundo dos elfos.
- Então que sugeres?
Ouvindo a conversa, a Deusa da Terra aproximou-se.
- É certo que agora os descendentes do Rei estão mortos, e isso é certamente uma grande tragédia para nós, bem como para os elfos, mas isso não quer dizer que podemos continuar sem um rei.
- Estou a entender, tu queres é que Liurath ocupe o lugar de rei para as coisas continuarem como antes. – interveio uma fada que entretanto se aproximara.
- Neste caso, temos de considerar a guerra ganha pelo lado de Liurath, visto que o lado de Johrry perdeu todos os candidatos. Talvez isto seja uma evidência de fraqueza. – disse o Deus da Guerra.
Cada vez juntava mais gente à volta de Liurath e da Deusa da Água para ouvir a conversa. Os defensores de Liurath mostraram-se contentes com a conclusão do Deus da Guerra, mas não demasiado pois a situação era séria demais para pulos de alegria. Os defensores da família real também não puderam dizer nada pois a verdade estava dita, não podiam sequer negá-la. Assim, ficou decidido que em breve Liurath seria coroado.
As tarefas para a coroação eram muitas, no entanto, em nenhuma delas parecia Landor participar. Na verdade, Landor não era visto em lado nenhum há algum tempo. Mais um deus desaparecido em acção.

No limiar do território do povo sagrado, de um lado estava uma densa vegetação rasteira, do outro lado nada havia senão fumo e ruínas. Tal era o estado do solo que era pouco provável voltar a ser habitado por vivos. Contudo, para os deuses, o pouco provável pode tornar-se provável e até certo. Observando a cena estava Jennya, conhecida como Edmees entre os elfos. A pequena deusa inocente sentiu um pouco desapontada com a criação dos seus antepassados. A semelhança entre os elfos e os deuses tanto física como psicológica espelhava escuridão no coração dos deuses. Essa realidade começava a nausear Jennya que conseguiu ver a imperfeição dos seres perfeitos.
A noite estava a chegar rapidamente. Levantou-se uma brisa.
- Vento de mudança. – constatou Jennya.
- São 10 os membros do conselho e 2 convidados recentemente, fazem deles 12. Hei-de os encontrar a todos. – reflectiu Jennya.
De repente, levantou a cabeça para escutar.
- Que me dizes, que histórias contas vento?
... inquietos….
Jennya franziu as sobrancelhas.
…as árvores sabem… com certeza…
- Obrigada, vento. Muito me ajudas.
Regressando rapidamente à floresta do onde tinha vindo, pousou a mão na árvore mais perto de si e perguntou:
- Árvores, sopram ventos de mudança. O que sabeis vós?
…o conselho reúne-se. Grandes…e tempestade avizinham-se. Deusa… o mundo…
- O conselho… O conselho do Povo Sagrado, ó tu que me dás sombra?
Uma brisa ligeira abanou as folhas da árvore. Jennya obteve uma resposta afirmativa. Invocou os seus poderes e apressou-se a voltar para junto da que deixara no centro da floresta.

Gaizer e Diuhsa encontravam-se empoleirados nos ramos do salgueiro à volta do qual se reunia o conselho do Povo Sagrado. Vários elfos aproximavam-se com calma. Entre eles havia um que aparentava a mesma idade que Edmees.
- E agora? Como vamos avisar Edmees? – sussurrou Gaizer.
- Não sei bem, mas se ela não vier até aqui, vamos fazê-los fica até ela vir.
- Boa ideia.
O elfo que aparentava a mesma idade que Edmees, olhou para cima, para os ramos do salgueiro, directamente para o local onde Gaizer e Diuhsa estavam.
- Estranhos, intrusos. – murmurou.
Os que estavam perto dele olharam também. Sabendo que os elementos constituintes do conselho eram todos senhores nobres, importantes e poderosos, Gaizer e Diuhsa não puderam fazer outra coisa senão descer da árvore.
Encarando os intrusos com sobrancelhas franzidas, o ancião pediu a outros dois membros que os levasse para fora do território do Povo Sagrado. Gaizer e Diuhsa protestaram, mas de nada serviu pois espiar o conselho era o crime mais grave entre o Povo Sagrado.

Sem comentários:

Enviar um comentário